5 de julho de 2007

TarZan..


Bem, já que estamos numa de pensar sobre a amizade, a primeira história daquelas que vos prometera tratar em “voLtem A conTaR_Me as HISTórias dE PUTo! pff...” será a de Tarzan ..

Todos conhecemos, sem dúvida, o menino que perdeu os seus pais num naufrágio, ao largo da costa africana, que foi salvo e criado na selva por macacos mangani, e que, muito tempo depois, se apaixonou pela jovem Jane, vendo-se, então, obrigado a escolher entre as suas raízes (o seu mundo) e a sua natureza humana (o seu amor por Jane).
Esta história dele derreteu o coração de toda a gente, sobretudo após o filme animado da Walt Disney, e a
razão do sucesso desta história deve-se ao facto, muito simples, de ela tocar um ponto fundamental da dimensão humana do homem: a dimensão comunitária/social.

Nós somos seres um bocadinho estranhos! Por um lado somos um “eu”, bichinho egoísta que procura sobretudo a sua própria satisfação. Por outro lado somos um “nós”, bichinho que é fruto do contacto com os outros homens que o envolvem, e sem os quais jamais se realiza. Nós somos algo de novo, mas feitos de “bocadinhos” de outros homens. Bocadinhos de tal forma essenciais para nós que sofremos bastante, ou rejubilamos, com a dor, ou com a ventura, dos homens de cujos bocadinhos somos feitos.
O homem nasce com as características físicas de homem, mas não é homem sem se humanizar no meio do contacto com os outros homens, sem ser acolhido e reconhecido por eles. Tarzan encarna o homem que não teve direito a esse contacto com os da sua espécie, e que, por tanto, não se pôde humanizar. Jane encarna a figura da comunidade que introduz o homem nas estruturas de significado próprias do homem, que lhe dá os instrumentos necessários à descoberta das suas capacidades como ser humano, e que o completa, na sua necessidade de afecto e amor.


Isto vê-se bem quando a Jane e o professor Porter mostram a Tarzan a projecção de imagens aparentemente banais (uma bicicleta, um ramo de flores, um homem a dançar, uma casa de pedra, …) abrindo-lhe de repente um mundo completamente novo e infinito.
Assim se passa também entre nós. Nós somos homens de corpo, mas somos ensinados a ser homens de espírito. Se não ensinarmos as nossas crianças a ler, por exemplo, elas jamais serão capazes de penetrar no mundo infinito dos livros e dos seus saberes; se não ensinarmos as nossa crianças a amar, elas jamais serão capazes de viver num mundo de paz e amor, porque não o conhecem, porque não o podem entender.

Em pequenino, com Tarzan, eu aprendi filosofia, mesmo que inconscientemente. Aprendi que não me bastam os mangani mas que preciso de uma Jane.
Os desenhos animados têm a grande vantagem de, cativando o interesse e a atenção das crianças, educar e enriquecer. Já com os “Morangos com Açúcar”, ou os outros de que falei, o que é que se aprende exactamente?... Filosofia não é de certeza. Matemática, ou outra ciência, também não me parece que seja... portanto, isso não educa, entretém.

Ora, Tarzan também estava entretido entre os mangani, mas…

4 comentários:

Anónimo disse...

boa dissertação! pena as janes nao passarem obrigatoriamente pelo "coador"..

(e nao te esqueças que a Jane, para os que querem ser padres.. «Aprendi que não me bastam os mangani mas que preciso de uma Jane» não pode passar de uma metáfora! :P)

abraço

Manel disse...

Lol.. não me esqueço não!
Mas estaria descansado se me esquecesse, não me faltariam os bons amigos para me lembrar!
Um abraço

André (um dos que aparece no G.J.) disse...

Acho que está muito bem escrito principalmente muito bem analisado... Tenho a dizer que, em muitos casos, é o pessoal das paróquias e dos seminários que servem de "Jane" a muita gente e já foram a minha "Jane".
Para vocês um muito obrigado!!!

Um abraço

Manel disse...

Muito obrigado pela parte que me toca, André! Mas devo dizer que a principal "Jane" não é o povo que trabalha nas paróquias ou que anda nos seminários, mas aquele que está por detrás das suas vidas e que os anima nas suas tarefas! Jesus, Jesus Cristo...
Mas isto não se pode dizer!.. Pode-se e deve-se dizer e fazer o que Ele diria e faria, porque é sempre o melhor e mais justo, mas não se pode dizer o nome d'Ele, porque parece "demodé"! lol...

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