24 de setembro de 2009

as verdades sãO paRa se sentir e vEr...

«Digo-vos que, se eles se calarem, gritarão as pedras.»

No nosso MunDo_MalUCO, não é raro subordinarmos a nossa vida ao ‘manual das vantagens e desvantagens’. Isto é, ganhamos o hábito de pensar tudo em função dos seus efeitos e consequências e de calcular se isso convém, ou não, às nossas ambições. Às vezes, levados por esta onda, pensamos que podemos, e alguns dizem mesmo que devemos, esconder do MunDo algumas verdades nossas, ou pelo menos parte delas.
De tal forma se torna frequente escondermos coisinhas (“pequenos e inconvenientes pormenores” - diz-se) da nossa vida que, às tantas, ganha-se-lhe o hábito e, sem notar, passamos das coisinhas às coisas, e das coisas às coisas grandes. Escondemos escolhas. Escondemos sentimentos. Escondemos credos. Escondemos convicções. Escondemos a verdade sobre nós e sobre o nosso MunDo. Escondemo-nos. Chegamos a esconder dos outros e, no limite, de nós próprios, aquilo que nos define.

Acontece que, bem lá no fundo nós raramente queremos esconder as nossas coisas, até porque, em muitos casos, continuamos a senti-las, a pensá-las e a fazê-las. Na verdade, aquilo que queremos mesmo "esquecer" esforçamo-nos é por apagar (o que também não propriamente uma ideia muito boa, mas isso é outra conversa), não por esconder. Econdemos porque queremos chegar aonde ambicionamos.

Logo, quando porventura alguém nos toca directamente nessa verdade que escondemos acontece uma de duas coisas: a) nós descaímo-nos, derruba-se a máscara dos nossos segredos e está o caldo entornado; ou b) nós conseguimos calar-nos (com um misto de cobardia e determinação) traindo o que verdadeiramente somos.
Bem analisadas as coisas, quer numa quer noutra situação somos sempre nós que ficamos a perder com os segredos e as omissões, o que nos deve fazer questionar se valerá mesmo a pena adoptar o ‘manual das vantagens e desvantagens’.
Mais cedo ou mais tarde, tudo o que nós escondemos há-de saber-se. Tal como Jesus avisou: “as pedras gritarão” até que se reponha a verdade e a justiça no nosso pequeno MunDo! Podemos, enfim, livrar-nos do escândalo público, mas nada nos livra do nosso escândalo de consciência, e das suas consequências nefastas.

A solução: não é dizer sempre e imponderadamente a verdade crua, factual! Neste caso cairíamos no erro contrário. É ponderar bem, a cada passo, se existem motivos suficientemente nobres para, mentindo, levarmos em cima com um calhau maldisposto e barulhento!


Raramente vale. Palavra de quem já tem muito ‘mamulho’ na testa. A verdade é sempre mais descansativa!

8 de setembro de 2009

a cLen wAter dROp!

Lembram-se do post 'UMa BurRa_FeLiz'? Com certeza que sim...

Pois bem, ‘a cLen wAter dROp!’ é um outro fantástico episódio da vida de Teresa de Calcutá, contado pelo mesmo Pe. Nuno Tovar de Lemos, sj, num encontro de juventude da Companha de Jesus em Coimbra, o ‘AfterPaul’.

Quando voltava de Oslo, onde foi receber o Prémio Nobel da Paz, em 1979, Teresa de Calcutá parou por uns dias em Roma.

Muitos jornalistas foram ter à pequena casa das Missionárias da Caridade, esperando poder fotografá-la e, quem sabe, falar com ela. A Madre Teresa recebeu-os com muita gentileza, fazendo questão de os cumprimentar um a um e até de lhes colocar nas mãos uma pequena “medalhinha”.

Um dos jornalistas fez-lhe a seguinte questão:

- Irmã, a senhora está prestes a fazer setenta anos e já é religiosa à cerca de cinquenta. Recebeu o Prémio Nobel da Paz e é vista como um modelo por muitos cristãos. Mas, sejamos concretos, depois de tanto trabalho, em que é que o mundo mudou?

Ela fez um ar de algum espanto e respondeu-lhe assim:

- Isso é interessante, sabe! É que eu nunca tinha pensado em mudar o mundo... Tudo o que eu fiz foi com a única intenção de me tornar numa gota de água limpa.

Naturalmente a resposta da irmã deverá ter apanhado os jornalistas de surpresa. Teresa continuou:

- Você acho isso pouco? Faça como eu e já seremos dois! É casado?

- Sou sim, irmã!

- Pois traga também a sua mulher e já seremos três! E filhos, tem?

- Tenho dois rapazes e uma menina.

- Que bom, ensine-lhes os mesmo e já seremos seis! ...


Posto isto, acho que não são precisos muitos comentários!

Eu quero ser candidato a sétima gota. Estão abertas as inscrições para a oitava e seguintes!

3 de setembro de 2009

a FinaliDadE...


A nossa conspiração contra e a favor do MunDO_MalUCO tem andado adormecida, mas ainda não morreu!...

Hoje trago-vos um texto do Professor César das Neves (ilustre economista da nossa praça, profundamente cristão, homem cujas venturas e desventuras teremos todo o gosto em comentar noutra oportunidade), que citei numa ou duas ocasiões e que, para meu espanto, causou 'celeuma e discussão'.


São dois os meus objectivos:

a) provocar as vossas consciências e causar a discórdia e a confusão...

b) permitir-nos um contacto mais directo e, portanto, mais esclarecedor com o texto.

Aqui vai:

A Finalidade

<“O homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus, nosso Senhor, e mediante isto salvar a sua alma”. Esta frase é de santo Inácio de Loyola (Exercícios Espirituais, nº 23), mas a ideia que exprime é de todos os tempos. Ela não exprime um dever. Limita-se a fazer uma constatação de facto.

Um carro é feito para transportar. Um carro pode servir para coisas muito diversas, desde galinheiro até barricada numa luta de rua. Mas um carro foi feito para transportar pessoas e coisas. O mesmo se passa com a pessoa humana. O ser humano foi criado para louvar a Deus. Pode fazer muitas coisas, mas aquilo para que foi criado é o louvor de Deus.

Quem olha para o ser humano compreendendo a sua finalidade última entende muito melhor a vida, a sociedade e a história da humanidade. Das formas mais variadas e, algumas vezes, das maneiras mais estranhas, mais distorcidas e mais incompreensíveis, o ser humano manifesta continuamente esta razão fundamental da sua existência. Fomos criados para a felicidade. E a felicidade suprema e ver Deus.

Os poemas, as declarações de amor, por exemplo, são um caso típico desta manifestação. “Amar-te-ei para sempre” ou “não posso viver sem ti” são frases que, ao longo dos tempos, miríades de amantes trocaram entre si. E estas frases, mesmo quando bem intencionadas, não passam de patéticas mentiras. É claro que o amor pelo outro se esgotará em breve, nem que seja pela morte; e é obvio que quem ama pode perfeitamente viver sem a pessoa amada.

Mas estas frases são, num grau muito mais profundo, verdades intensas. Porque elas são, apenas, uma manifestação particular da verdadeira finalidade da vida humana. Através da pessoa amada elas dirigem-se a Deus. E, referidas a Deus, tornam-se perfeitamente verdadeiras: o amor de Deus só pode ser para sempre, no plano da eternidade; e a nossa existência não tem possibilidade de ser sem Ele.

No fundo, o que amamos na pessoa amada é aquela chispa de divino que o Criador nela imprimiu. Podemos não dar por isso, mas é Deus quem louvamos ao olhar para uma pessoa amada, tal como ao olhar uma flor, um livro ou um castelo; e até uma garrafa de vinho ou um monte de dinheiro. Porque essas coisas tê a assinatura do seu autor. E nós fomos criados para louvar essa presença, mesmo ténue, da divindade.

Assim, neste sentido, vivemos mergulhados em eus. É por isso, aliás, que não O vemos. Uma pessoa, sentada na praia, consegue ver o mar; mas quem mergulha nele deixa de o ver, exactamente porque ele está em toda a parte. Completamente mergulhados na criação de Deus, vemo-lo em todo o lado e não o notamos em lado nenhum. [...] >


O texto continua com a problemática do pecado... Mas, para já, basta-nos este trecho... Bom proveito!

- Reclamações e sugestões?! Nos comentários, por favor!

[in NEVES, João César das – Parábolas sobre Jesus. Principia, 2001; pg. 63.]