30 de junho de 2007

"O eSsenCiAl é inViSíveL aOs oLhoS" (pArTe 1)


«Foi então que apareceu a raposa.
- Olá, bom dia! – disse a raposa.
- Olá, bom dia! – respondeu delicadamente o principezinho que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui – disse a voz – debaixo da macieira.
- Quem és tu? – perguntou o principezinho. – És bem bonita…
- Sou uma raposa – disse a raposa.
- Anda brincar comigo – pediu-lhe o principezinho. – Estou tão triste…
- Não posso ir brincar contigo – disse a raposa. – Não estou presa…
- Ah! Então desculpa! – disse o principezinho.
Mas pôs-se a pensar, a pensar, e acabou por perguntar:
- O que é que “estar preso” quer dizer?
- Vê-se logo que não és de cá – disse a raposa. – De que é que tu andas à procura?
- Ando à procura dos homens – disse o principezinho. – O que é que “estar preso” quer dizer?
- Os homens têm espingardas e passam o tempo a caçar – disse a raposa. - É uma grande maçada! E também fazem criação de galinhas! Aliás, na minha opinião, é a única coisa interessante que eles têm. Andas à procura de galinhas?
- Não – disse o principezinho. – Ando à procura de amigos. O que é que “estar preso” quer dizer?
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu – disse a raposa. – Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços – disse a raposa. – Ora vê: por enquanto, para mim tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo…»



Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho, cap. XXI

29 de junho de 2007

cooRRE COrre saBroso...

«Mais um dia corre lentamente
Como anda devagar o tempo
Quando se quer algo que parece fugir.
Corre corre meu querido tempo
Apesar de não querer que passes depressa
Sei que és a única via de a alcançar.

Sim, corres andas deslizas
Mas nada de novo acontece
Apenas um cumular de acontecimentos novos.
Serás tu que corres devagar?
Será o que desejo que foge?
Diz-me meu querido tempo
Para que lugar me queres levar
Corres para o encontro?
Precipitaste para a morte?

[SILÊNCIO
]

Tudo me vai sendo revelado
Em cada momento que me é dado!»

28 de junho de 2007

voLtem A conTaR_Me as HISTórias dE PUTo! pff...

Concordo com o Júlio! (uMa ViDa...)
É sempre bom e agradável relembrar os velhos tempos de infância, as nossas asneiras de crianças e os respectivos castigos, os tempos em que ainda havia pela frente todo o tempo e o mundo todo para explorar! Não é?…

Não há muito tempo tive oportunidade de relembrar alguns dos desenhos animados que, quando era miúdo, enchiam o meu imaginário. Podia enumerá-los, mas já assim me acusam de me estender demais, quanto mais se o fizesse!...
Interessante notar é que, "quase" adulto que sou, muitas vezes tomo as atitudes dos "bonequinhos" que vi, e que me comporto como eles. É claro que, aqui, a relação causa efeito está errada. Eu não me comporto como eles, eles é que foram criados para me transmitir aquilo que eu devia aprender: coragem, honra, verdade, humor, asneiras também, etc. :p) … Fica a ideia…
[Um destes dias hei-de falar-vos daquilo que esses bonequinhos nos têm para dizer. Tema muito interessante que se abordasse aqui me levaria outra vez para os quinhentos metros de post… Não posso! – Tenho de me conter!]
No entanto, gostaria de vos pôr desde já a pensar (se bem vos lembrais esse é exactamente o fim deste blog) …
Sensibilizado pelo que aprendera com os "meus macaquinhos", deitei um olhinho aos desenhos animados e à programação infantil destes dias e fiquei perplexo! Alguém sabe o que é que se aprende com uma hora diária de “As Navegantes da Lua”, de “Powerpuff Grils ” ou de tantas outras séries, principalmente chinesas, das quais nem consigo fixar o nome? E, vamos mais longe, com os “Morangos com Açúcar”, ou com a “Floribela”?
E, pergunto ainda, supondo que alguém consegue encontrar algum teor apreensível no meio de tudo aquilo, será que o devíamos aprender? Vale a pena o esforço, ou até são mais as asneiras que as virtudes que podemos aprender? …
Digam-me, se é que sabem, por favor; porque eu não consigo perceber!
É verdade que as crianças têm uma imaginação que todos nós “quase” adultos já perdemos, e que descobrem tesouros onde aparentemente nada há; mas e não me venham com a história de que os tempos mudam e os gostos também! A minha priminha, que tem dois anos, também se maravilha a ver os desenhos animados que eu via há doze anos…
A diferença? Nuns há muito que aprender, foram feitos de anos de velha experiência e sabedoria do senso comum e da filosofia; os outros tem de manter as audiências e render aos produtores.

Bem, quanto a mim, deixem-me ver os clássicos…

à liBeRdAde

«Gloriosa e penosa Liberdade
Que oprimes e libertas
Quem a ti se entrega
Sem certezas
Sem um porto seguro
Onde possa se abrigar!

Gloriosa e penosa Liberdade!
Fazes com que vivamos sempre
No velho dilema da escolha:
Dizer sim a algo é dizer não a outra coisa.

Que triste e livre resolução!

Que aquilo porque optamos
Dê sentido e supere o que deixamos!»

27 de junho de 2007

esTáS eM miM!

«És tu que falas
Sou eu que ouço
É teu o meu tempo
É meu o nosso espaço.
Vives a tua vida
Vivo a nossa vida
Pertences ao tempo
Ao tempo que eu também pertenço.

Saboreamos momentos únicos
Sentimos vivências inexplicáveis
Vivemos

Corremos
Paramos


No meu eterno jardim!»

23 de junho de 2007

uMa vIdA...

«Tenho saudades dos momentos em que vivia aproveitando cada minuto, cada segundo, sem consciência do tempo, da responsabilidade, do dever, da obrigação. Brincava, dormia, comia, falava, brigava, chateava e chateava-me, trabalhava, estudava... sempre com a mesma força, com a mesma unidade que faziam cada momento algo único, um tesouro imperdível, uma vida verdadeiramente vivida.
Tenho saudades das brincadeiras infantis, das piadas inoportunas, dos comentários censurados, da vontade enfrentada, do desejo espontâneo. Sonhava, desistia, enfrentava, construía, olhava... tudo era meu mas eu não era pertença de nada. Pensava ser Eu e somente Eu que vivia.
Agora cresci e descobri que nunca vivi sozinho, nunca fui um Eu uno, alguém esteve sempre a meu lado, melhor, em mim mais do que eu próprio [JC]... E também fui deixando-me em quem tocava, em quem olhava, em quem ajudava, em quem amava, com quem me relacionava, com quem partilhava. Mas também em quem odiava, em quem desprezava. Sim… as relações são isso mesmo, uma troca mutua de nós mesmos, uma manifestação, uma dádiva do que, em nós, é incomunicável.Sou eu e continuarei a ser Eu, em mim, e em todos os que querem continuar a fazer parte da minha história!»

22 de junho de 2007

o qUE é SEr pobRe...

Um pai, muito bem colocado na vida, querendo mostrar ao seu filho que é ser pobre, levou-o a passar uns dias com uma família de camponeses, onde ele esteve 3 dias e 3 noites.
No carro, de regresso à cidade, o pai perguntou-lhe: - Como foi a tua experiência?
- Foi boa -, respondeu o filho, com o olhar perdido à distância.
- E o que aprendeste? - Insistiu o pai.
O filho respondeu:
1 - Que nós só temos um cão e eles têm quatro.
2 - Que nós só temos uma piscina com água tratada, que ocupa apenas metade do nosso quintal e eles têm um rio sem fim, de água cristalina, onde há peixinhos e outras belezas.
3 - Que nós importamos lustres do Oriente para iluminar o nosso jardim, enquanto eles têm as estrelas e a lua para os iluminar.
4 - Que o nosso quintal chega até ao muro e o deles chega até ao horizonte.
5 - Que nós compramos a nossa comida e eles cozinham a deles.
6 - Que nós usamos microondas, enquanto que tudo o que eles comem tem o delicioso sabor do fogão a lenha.
7 - Que nós ouvimos CD's... e eles ouvem uma perpétua sinfonia depássaros, sapos, grilos e outros bichinhos... tudo isso, às vezes, acompanhado pelo catito canto de um vizinho que trabalha a terra.

8 - Que, para nos protegermos, vivemos rodeados por um muro, com alarmes... e eles vivem com as suas portas abertas, protegidos pela amizade dos seus vizinhos.
9 - Que nós vivemos 'conectados' ao telemóvel, ao computador, à televisão e eles estão 'conectados' à vida, ao céu, ao sol, à água, ao verde do campo, aos animais, às suas sombras, à sua família...
10 - ....
E terminou: - Obrigado, pai, por me ter ensinado o quanto somos pobres!

Conclusões:
A cada dia que passa, estamos mais pobres de espírito. Preocupamos-nos com TER, TER, TER, E TER CADA VEZ MAIS, em vez de nos preocuparmos com SER, SER cada vez mais, SER cada vez melhor, SER verdadeiro, SER livre, SER completo.

Ao fim e ao cabo parece que Jesus tinha razão, Benaventurados os pobres, porque deles é o Reino dos Céus...(sabeis o que é o Reino dos Céus, certo? - Não? Lede a Cidade de Deus de Santo Agostinho)
[texto adaptado de um e-mail]

21 de junho de 2007

quAnto cUsTa a PaZ?


QUANTO CUSTA
Duas mãos que se unem?
Uma palavra de perdão?
Um sorriso que perdoa?
Uma razão que compreende'
Um coração que aceita?
Uma vontade que ajuda?
Uma vida que se dá?
Uma força que se mostra pelos actos corajosos e destemidos?
Uma vida que se dá a preço de um simples e amoroso sorriso?

20 de junho de 2007

vaMos A isSo...

Com mãos se faz a paz se faz a guerra
Com mãos tudo se faz e se desfaz
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedra estas casas mas de mãos.
E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.


Manuel Alegre

pAz!!! pRecIsaMos dE pAz



"O tiroteio à nossa volta quase não nos deixa ouvir. Mas a voz humana destaca-se de todos os outros sons. Sobrepõe-se aos ruídos que silenciam tudo o resto. Mesmo quando não grita. Mesmo quando não passa de um sussuro. O mais ténue dos sussuros sobrepõe-se ao clamor das armas. Quando fala a verdade."

Do filme A Intérprete



13 de junho de 2007

uM peQueNo peNsaMentTo

"O desejo é dificil de suster...
Ainda que eu o quisesse aniquilar sem mais, não conseguia...
No momento em que deixar de sentir, de amar, de sonhar, deixo de SER."

1 de junho de 2007

SeRá SHakspeARe PeSsimISTa ou aTé tEm rAZão?

Ser ou não ser, eis a questão. Qual será o partido mais nobre? Suportar as pedradas e as frechadas da fortuna cruel ou pegar em armas, contra o mundo de dores e acabar com elas, resistindo? Morrer, dormir, nada mais; dizer que pelo sono poderemos curar o mal do coração e os mil acidentes naturais a que a nossa carne está sujeita é, na verdade, um desenlace que todos nós fervorosamente podemos desejar. Morrer! Dormir; dormir, sonhar talvez? sim, aqui está o ponto de interrogação; quais são os sonhos que teremos no sono da morte, quando escaparmos a esta tormenta da vida? Isto obriga-nos a reflectir. É tal reflexão que prolonga por tão largo tempo a vida do miserável; quem quereria suportar, na realidade, as chicotadas e os desprezos dos tempos que vão correndo, as injustiças do déspota, as afrontas do orgulhoso, as torturas do amor incompreendido, os vagares da justiça, a insolência dos poderosos, os pontapés que o mérito paciente recebe dos indignos, quando para si mesmo podia alcançar a paz com a simples ponta dum punhal? quem quereria gemer, suar sob o peso duma vida de canseiras, sem receio de alguma coisa depois da morte, essa região desconhecida de onde nenhum viajante volta? Eis o que embaraça a vontade e nos decide a suportar os males de que sofremos, com medo de irmos encontrar os outros que não conhecemos. É assim que a consciência faz cobardes de nós todos; é assim que as cores naturais da nossa resolução mais firme empalidecem perante o frouxo clarão do pensamento doentio e os projectos de grande alcance e de grande importância, graças a esta consideração, mudam de rumo e voltam ao nada da imaginação. Mas… silêncio! (…).[Hamlet]

EMpeNho, EfiCÁcia, ExcElêNcia! e... aMor?

No nosso MuNdo_MaLucO da técnica, da produção, da economia e do economicismo, EMpeNho, EfiCÁcia, ExcElêNcia, ... são regras de ouro que surgem constantemente em qualquer projecto, em qualquer actividade, no que quer que seja.
Pensemos (como é nosso habito) …
Isto é bom ou mau?
Bem, seria uma imprudência dizer, simplesmente, uma ou outra coisa!
Com efeito, o Empenho, a Inteligência, a Eficácia, a Excelência e muito mais coisas não são, em si, nem más nem boas. (É exactamente como os sentimentos… São o que são, enquanto tal! …)
A sua positividade ou negatividade existe? Sim, sem dúvida, mas apenas enquanto relativa “àquilo que”, e “à forma como” estas coisas se aplicam. Passo a exemplificar…
Eficientemente falando, o que importa a um jogador de futebol é vencer o jogo e, se possível, marcar muitos golos! Contudo, se para atingir tais níveis de eficácia ele não se importar de enganar o árbitro, lesionar os adversários, ou mesmo, roubar os golos aos elementos da sua própria equipa a sua eficácia é boa?
Infelizmente, não podemos dizer que não é! Se a sua equipa conseguiu os seus objectivos! … A sua eficácia é impecável!
- Agora, “a forma como” ele consegue ser eficaz é, sem sombra de dúvida (que se roa quem quiser) muito má. É anti-desportiva; injusta; imoral, até...
Raciocíneo semelhante pode-se fazer em relação à ineficácia! À aparente ineficácia!
Estou certo de que todos nós conhecemos o filme Schindler's List (A lista de Schindler, a adaptação do livro Schindler's Art de Thomas Keneally).

Lembramo-nos, com certeza, de Oskar Schindler ter dado ordens ao seu contabilista e gerente para que as munições da sua fábrica fossem totalmente inofensivas ("ficarei seriamente chateado se algum dia alguma destas munições funcionar"), ou seja, de lhe recomendar, deliberadamente, ineficácia!
A Ineficácia era boa para Oskar? Não!.. Em pouco tempo todos seus os recursos esgotaram-se e ele caiu na falência e na pobreza!
- Já “aquilo pelo qual” ele recomendou ineficácia aos seus empregados, isso, sem dúvida, era bom!
Dado isto, pergunto: como poderemos saber quando é que devemos ou não ser eficazes, empenhados, excelentes, …?
O que é que me dá garantias da validade ética da minha eficácia, do meu empenho e da minha excelência?
Um valor superior, seria a resposta politicamente correcta, dita pela nossa sociedade laica. O tanas!
O tanas!
O que é um valor superior? Superior a quê? Porquê essa superioridade? O que é que torna a superiordade válida?…

Não podemos ir por aqui! Porque os valores, senhores, também não são nem bons e nem maus! Dependem daquilo e da forma como são utilizados!
Respondendo... O Pe. Dehon, fundador do Dehonianos, dizia: Não basta fazer bem as coisas, é preciso fazê-las com Amor…
E é, efectivamente, só o Amor (entendido enquanto Caridade) que nos pode ajudar nesta circunstância: A de sabermos como agir!
Isto porque
o Amor não é subjectivo, é universal. Porque o Amor não se rege nem por cotações económicas, nem por por ideologias políticas, ou por qualquer interesse pessoal mesquinho, mas apenas por si próprio. O verdadeiro Amor nunca falha e elimina todo o erro…
É por isso que Santo Agostinho
diz: Ama, e faz o que quiseres!
(Mas não se esqueçam de amar primeiro!)