11 de julho de 2007

as MinHAs varANdas!


Todas as manhãs me sento a tomar o meu café na varanda da minha casa que dá para o bosque. Dizem-me os meus amigos: "Tão certo como o sol raiar, todas as manhãs te vemos na varanda quando vamos trabalhar!"
Tenho sorte de ter uma casa onde de manhã vejo os montes altos que tentam a todo o custo, todas as manhas, reter, enquanto podem, o sol que não pede licença para entrar, as colinas que no Inverno se cobrem de neve, as arvores que no Outono deixam suas folhas, os caçadores que no verão buscam, entre toda a vegetação, as suas presas, as flores que na primavera abrem-se ao sabor do vento, vestem-se vaidosas só para cativar o olhar de quem passa, ou simplesmente para garantir que são vistas e não são calcadas. E ao fim da tarde, do outro lado da casa, numa varanda mais escura mas mais aconchegada, vejo o pôr-do-sol que desce sobre a cidade, as pessoas que regressam cansadas a suas casas, o ar sujo que pinta de cores maravilhosas o céu, os vidros que reflectem em mil direcções as últimas gotas de luz.
Em minha casa tenho a varanda dos sonhos, dos projectos, do desejo de viver com muita naturalidade. Sem pressas, sem construções fortes, mas com abrigos amorosos que se confundem com tudo. É uma varanda que adoro e que no fundo não me pertence, é mais um prolongamento de algo mais. Nesta não tenho cadeiras nem sitio onde repousar, apenas um espaço amplo onde posso correr saltar, sentir-me de facto cheio de vida, livre, unido a tudo o que me rodeia. Aqui há luz, há vida, há força, há beleza.
Tenho também uma outra varanda que, para mim, é especial e única. Aqui tenho um bom sofá, grandes cortinados, enfim um ambiente terno e doce. Aqui passo muitas horas da minha vida… A sentir, a recordar, a reviver ou melhor, a viver tudo de uma forma diferente. Quando entro neste meu pequeno átrio o meu relógio para, entro apenas eu. E comigo entra apenas quem eu quiser e aquilo que eu, depois de lá estar, for buscar. Aqui a luz é reduzida, tenho dificuldade, em certos dias, em ver-me a mim próprio. Mas amo este espaço que parece pequeno da minha casa. É bom sentir que temos espaços na nossa casa onde viver e descansar, onde sonhar e reflectir, onde amar e ser amado…
Já sabes, quando quiseres fazer uma casa, diz ao arquitecto para ter isso em conta. É importante para que te sintas bem, no fundo, para que te sintas, de facto, em casa.

3 comentários:

Anónimo disse...

É na minha varanda que releio vezes sem conta as minhas próprias histórias. Nem sei já se as posso considerar minhas quando sem sequer sou a personagem principal. É mais de pessoas como tu que elas tratam, e ao final da noite já não estou só na minha varanda e sim acompanhada por desejas de personagens, melhor pessoas, que preenchem a minha vida. É assim que vou escrevendo o livro de histórias que, espero, alguém um dia tenha paciência para ouvir. Enquanto isso, vou deixando pedaços de mim por estes lugares, pode?

Anónimo disse...

Errata:
- dezenas

Júlio Pereira disse...

Claro que sim...
Sabes muito bem que cada um de nós sempre que diz algo "neste" espaço deixa algo de si.
Nas minhas varandas, melhor, sobretudo naquela especial, também penso em pessoas como tu!

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