16 de fevereiro de 2011

AMOR dE viÚVo


«Hoje apetece-me escrever qualquer coisa sem um sentido e falar de um velho viúvo que ainda não encontrei mas com quem preciso de falar, para confrontar com a experiência algumas dúvidas que me incomodam.

Será que alguém conhece tal velho viúvo? É um velho rabugento e teimoso como todos os velhos viúvos, que gostava muito da sua mulher. Não sei se lhe batia, se não, ou se resmungava muito com ela. Acho que sim, mas não sei. Ainda não o encontrei. Só sei que gostava dela tanto tanto que quando ela morreu até a violência e o mau humor do velho perderam o sentido e deixaram de ser interessantes para ele.

Gostava de saber por que é que ele também morreu: se é porque perdeu o sentido, como o meu texto. De saber por que é que ele não bateu em mais ninguém e não encontrou com quem resmungar daquela maneira: se é porque já não teve tempo para isso antes de morrer.

Quero muito perguntar-lhe se concorda comigo em que o luto não tem cinco fases mas seis, sendo a sexta mais do mesmo das outras cinco: a paixão - do latim: patio, onis - que não é só o que por ela se entende normalmente, mas também um sofrimento que quase se pode traduzir por saudade.

E quero saber se ele acha que é justo que a paixão não seja a sexta fase mas a primeira de todas, talvez até prévia à própria morte, ainda que isso torne toda a vida um luto ou, melhor, todo o luto uma vida.»


Encontrei aqui num recorte, a meio dos meu canhenhos.

1 comentário:

Pedrosousa disse...

acho que essa fase faz todo o sentido... melhor poderia eu dizer que antes de ser luto é vida e depois de o ser... é eternidade... =)

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