19 de novembro de 2008

sAra, Deus NãO criOu o INferno...

Quem foi à Missa no último Domingo ouviu (ou pelo menos deveria ter ouvido), com mais ou menos surpresa, Jesus, no Evangelho, ameaçar aqueles que se fazem moucos à sua mensagem, mais concretamente, neste caso, aqueles não põem a render os dons que Ele lhes dá.
Bom, pode ser que ameaçar seja um verbo demasiado duro; será melhor, por ventura: avisar, alertar, chamar a atenção, enfim… O certo é que àqueles que não O ouvem estão destinadas as “trevas exteriores: onde haverá choro e ranger de dentes”; ponto final.
Posto isto, a Sara, uma menina de 8 anos, veio perguntar-me, tão desembaraçada como quem pergunta uma coisa óbvia: - Mas por que é que Jesus não disse logo “vai para o Inferno”?.
Respondi-lhe, apreciando até que ponto é que ela conseguiria perceber a minha complicada linguagem da Teologia, que, no tempo de Jesus, o conceito de Inferno, tal qual nós o temos, ainda nem sequer existia… Ao que ela replicou, com o mesmo desembaraço de antes: - Mas não foi Jesus que criou tudo? Foi Ele que criou o inferno, não foi?
“Ah, e agora?” - pensei para comigo. Estava a ali em jogo a Omnipotência e a Misericórdia, uma em contradição com a outra. Como se haveria de resolver esta questão sem negar uma delas? Os miúdos podem não perceber de Teologia, mas fázem-na torcer-se...
A avó da Sara, felizmente, talvez por ver a minha cara de pasmo, tirou-a dali - estava na hora de ir para casa. Da Sara safei-me, mas a pergunta, essa, ficou. Será?!…
Ora, a verdade é que Deus não pode ser o criador do “caldeirão negro, quente e fumegante” onde as almas más penam pela eternidade fora. Não pode ser o criador de semelhante coisa dado que, antes de mais, ele é Amor. Melhor ainda, podia tê-lo criado, mas NÃO QUIZ. Deus não não quiz nem criou o Inferno, nem sequer quiz ou criou o Diabo, ponto final.
Contudo, não criou o inferno mas, ao dotar a criação de uma inviolável liberdade, deixou aberta a possibilidade da sua existência. O Homem, alguns homens, é que o criou. Como? Recusando, ignoranto, traindo o Amor com que Deus lhes aparece. Por outras palavras: “Mas o que recebera um só talento, foi e cavou na terra e escondeu o dinheiro do seu Senhor.” (Mt 25, 18).

Fica prometida, para uma próxima oportunidade, duas palavrinhas sobre essa estranha criação humana, o Inferno, ainda a partir de Mt 25, 30: “ali haverá choro e ranger de dentes”.

1 comentário:

Manel disse...

A pedido de algumas famílias retirou-se daqui a foto do inferno, que, em boa verdade, nem era grande coisa.
Que fique também esclarecido, para que descansem os interessados, que a promessa feita no fim do post é para ser cumprida! (Fica bem dizer isto, até porque estamos em tempo de eleições!) Só estava era um pouco esquecida!

Bem haja!

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