1 de dezembro de 2007

TEmpo E (é meSmo "e") diNheiRo



Há poucos dias, a malta foi às Docas, para festejar o aniversário de um colega… Quando estávamos a chegar, um atacador ranhoso, que tenho nas minhas sapatinhas, desatou-se e eu tive de parar um bocadinho de nada, só para o por em ordem.
Recomecei a caminhar para apanhar os outros e, num lapso, reparei que vinha ao meu encontro uma moça com uma capa na mão e, em cima da capa, muitos lacinhos daqueles que a Abraço costuma distribuir nas suas campanhas de angariação de fundos.
Parei; e de imediato a moça chegou à minha beira. Perguntou-me se falava português… Respondi que sim (ainda que um pouco espantado com a pergunta).
Ela continuou: - Não queres dar uma pequena ajuda às pessoas seropositivas, como eu?… Naquele dia até estava disposto a contribuir, já tinha metida a mão ao bolso e tudo. Mas se em mim houvesse algum resto de relutância, aquele “como eu?” tê-la-ia desfeito num ápice…
Tirei a mão, que já segurava a carteira, do bolso; abri-a e dei-lhe todas as moedas que tinha no momento… Foi, certamente, a mais generosa oferta que já dei nestes peditórios…
A moça tirou um dos lacinhos da capa e colocou-o no casaco que eu tinha vestido. – Cuidado para não te picares! – disse, e foi abordar outras pessoas. (Tudo isto demorou MENOS de 1 minuto.)

Durante os dez segundos seguintes, senti uma felicidade enorme… Não era vanglória nem orgulho… Tinha ajudado espontânea e sinceramente, e sentia-me bem… Só isso! Porque, quando se ajuda assim, outra coisa não é possível!
No entanto, à primeira tentativa de racionalizar o que me estava a suceder, toda a “felicidade” desapareceu… Porquê? – dizem vocês. A minha espontaneidade fora tanta que nem sequer pensei, por um segundo que fosse, que podia estar a ser enganado…
Bem vistas as coisas, ela não tinha nenhum tipo de identificação; o laço era feito de um bocadinho de fita e um alfinete de costura (nada apontava que fosse autêntico); ela estava num local estranho para um peditório daquele tipo, a uma hora estranha e estranhamente só nessa tarefa!
De repente, aquele “como eu?” parecia-me a maior hipocrisia que já ouvira… E a felicidade que me invadira esvaziou-se tão bruscamente que nem sei como o descrever…

Estava envergonhado comigo próprio… Mas lá arranjei coragem de me “queixar” ao resto da malta, em jeito de descarga de consciência… Riram-se (como é óbvio) risos construtivos, e disseram-me algo do género: deixa lá; fizeste a tua parte…
Ora, isso pôs-me de novo a pensar… Se eu fizera aquilo que deveria ter feito, porque me sentia assim, chateado comigo? É que se ainda fosse com ela!!... Bom, pensei, pensei, e eis as minhas conclusões… [Parafraseando Almeida Garrett, agora é que vem o importante!]

Estava triste não por ter sido enganado, porque disso eu não tenho culpa, mas por me ter esquecido de que a minha moeda, por muito grande que seja, não vale nada sem uma palavra amiga, um sorriso, um abraço àquele que pede na rua, e àquele que precisa… Quem já pediu, sabe que é assim.
Depois, se tivesse falado com a moça, não só tornaria mais rica a minha oferta, que naquele momento foi mesmo sincera, como também teria eliminado qualquer tipo de suspeitas de roubo…

Bom, é quase Natal… Época de grande solidariedade… Se fores interpelado, não te esqueças: Dá também um pouco de tempo…

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