2 de outubro de 2007

O eRRO de PEssOa



Andava aqui a arrumar o quarto e encontrei o meu livro de Língua Portuguesa do 12º ano. Lembrei-me que o tinha guardado porque queria, um dia, relembrar os poemas que lá vêm, e ver as burrices do género: “ninguém me paga para aturar isto”, que na altura me apeteceu escrever. Passando os olhos pelas páginas de Fernando Pessoa retive-me naquele poema que é o descargo de consciência de todos os estudantes, a saber: aquele que começa por «Ai que prazer Não cumprir um dever, Ter um livro para ler E não o fazer.»

Recordo-me que, neste poema, para além deste desabafo inicial, que muito me apetecia citar quando os professores nos enchem dúzias de papéis com “bibliografia obrigatória e aconselhada”, sempre me atraiu a última quadra («O mais que isto É Jesus Cristo, Que não sabia nada de finanças Nem consta que tivesse biblioteca...»), por desferir o golpe fatal nas bibliografias enfadonhas, usando um exemplo tão profundo.
Contudo, desta feita, como é normal na poesia, o verso «Que não sabia nada de finanças» soou-me estranho, e levou-me a reflectir… Então, Cristo, a pessoa mais inteligente que conheço, não sabia nada de finanças? Nãaa…

Na verdade, os Evangelhos não são, sequer, nada parecidos com um moderno tratado de finanças, pelo contrário, até nos ensinam a não mentir nem roubar! Todavia, o problema não está no evangelho, mas na modernidade dos tratados… É claro que, se entendermos a actividade financeira como a arte de fazer galgar a nossa conta bancária, Jesus não tem nada a dizer. Mas se entendermos a economia como a arte de bem gerir os bens que possuímos (como me parece que consta dos dicionários), aí Cristo ditou-nos um manual fantástico!...

«Perguntavam-Lhe: “Que devemos, então, fazer?” Respondia-lhes: “Quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, e quem tem mantimentos faça o mesmo.”»

Que nos perdoe Fernando Pessoa, por o termos iludido, confundindo o significado deste termo. Pessoa não errou, foi iludido por aquele que lhe disse o que vem a ser isso de finanças...

[Percebes agora qual é o sentido das Obras Sociais da Igreja?! Cristo não foi economista, mas foi ecónomo, e teria sido um óptimo Ministro das Finanças.]

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa, Emanuel!

Manel disse...

Obrigado João!!

Related Posts with Thumbnails