1 de março de 2011

RabiSCada


A primeira pincelada sobre a tela parece sempre um rabisco. E por muito tempo as pinceladas que vêm a seguir a ela parecem acrescentos ou borradas à rabiscada original. Não fosse, às vezes, o génio ou a graciosidade dos artistas marcar a diferença, e nenhum quadro passaria de um aborto aos olhos de quem o aprecia.

Todavia, passa-se o contrário: é universalmente estúpido comentar um quadro ou qualquer outra obra de arte antes dela estar acabada. Não sei bem por que é que é assim. Só sei que é mesmo assim que é suposto ser: que logo desde a primeira pincelada a tela se transforme no quadro que será! Desde o primeiro rabisco o quadro é um mistério!

Talvez seja porque no trabalho de um verdadeiro artista a alma sente alguma coisa que não cabe na sua capacidade de comentar, algo que a transcende e a faz transcender-se, também.



Ora, se assim é com um quadro, ou uma escultura, ou um livro, ou com um monumento, como o não será com a nossa vida? Acaso não é ela o mais complexo e sofisticado mistério humano?

Lembra-te disso quando for preciso, porque também Deus começou por um mero rabisco!

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